quinta-feira, 31 de julho de 2008

Lembrança de incêndios

O tempo faz tudo. Esta semana estive numa reunião-alomoço da Acif, onde o empresário gaúcho e ex-deputado Luiz Roberto Andrade Ponte foi palestrante, para falar de sua proposta de Reforma Tributária. Apesar da brilhante exposição não contive minha atenção e viajei em lembranças inesquecíveis daquele homem de cabelos brancos e de voz calma. Há 30 anos entregava os melhores anos de minha vida a uma militância lúdica ao MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Luiz Ponte era o presidente do Sinduscon, o Sindicato dos empresários da construção civil de Porto Alegre. Eu era assessor de comunicação (de agitação, melhor dizendo…) do Sindicato dos trabalhadores.
Em lados opostos na mesa vivenciamos muitos debates acalorados durante as rodadas de negociação de acordos coletivos daquela categoria. Explique-se que debate, em época de ditadura, inclui muitas vezes, além de conversas, cenas de pugilato, correria e muita ousadia. Não fugimos à regra. Tivemos embates fortes, com literais viradas de mesa e até o incêndio de um prédio em obra, na qual trabalhavam centenas de operários que não recebiam seus salários há semanas. O Sindicato desempenhou seu papel, fez uma assembléia e a categoria deliberou sobre o incêndio. Fornecemos a gasolina que estava aguardando na Kombi. Os bombeiros e a polícia logo apareceram, o presidente do Sindicato foi preso, mas os empresários, liderados pelo Dr. Ponte, pagaram seus empregados. Uma história assim, hoje no Brasil, seria inimaginável e quase não acredito que tivemos essa petulância na época. Mas era assim mesmo. Três décadas depois me encontro com este recanto do meu passado. Estamos envelhecidos e mudados pelo tempo. Entrevistei o Dr. Ponte para o Jornal da Noite/Rádio Guarujá olhando seu semblante e tentando me recordar daquelas cenas. Foram vários flash’s e meu entrevistado percebeu isso. Depois do “stop” rimos muito de tudo, fraternalmente.
Salve a democracia e o tempo! Foi bom…

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