terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma sensação de solidão

Estes dias que passam nos dão uma impressão de que estamos cada vez mais órfãos dos nossos ilustres, das nossas reservas morais. Gente que nos guiou os passos e as idéias por décadas vão passando, deixando um grande vazio.
É o caso do Dr. Ulysses Guimarães. Líder brilhante e raro, fundamental nos embates contra a ditadura militar e depois na chamada transição democrática. Ontem, feriado de Nossa Senhora Aparecida, fez 17 anos que o “Senhor Diretas” desapareceu. Um fato estranho, pouco explicado até hoje, mas muito próprio do Brasil, estranho e pouco explicado também.
Tive o privilégio de conviver com ele durante meses, trabalhando em São Paulo, na sua campanha presidencial de 1989. Era um forte e transitava em qualquer ambiente, sem perder princípios, transigindo apenas no que a boa política permite, sem nunca esquecer da ética.
Durante sua campanha dava um banho em todos nós, de 30, 40 anos, e ele já com seus 70 bem cruzados. As articulações mais complicadas, com as quais tinha uma habilidade admirada até pelos adversários políticos, o Dr. Ulysses preferia fazer à noite, no Restaurante Piantella, na Capital Federal, em conversas que duravam horas, sempre regadas a doses de "poire", um licor de pêra, bebida preferida dele.
Somos um país estranho mesmo. Naquela eleição de 89 elegemos Collor, deixando aquele que mais precisávamos e que mais merecia ocupar o Planalto em 7º lugar. Tiveram mais votos que Ulysses, além de Collor, Lula, Brizola, Covas, Maluf, e Afif.
Lembro que os jornalistas que cobriam o Congresso se regozijavam com as tiradas do Dr. Ulysses. Sabia que suas declarações renderiam nas matérias e isso fazia dele o centro das atenções em Brasília. Me lembro de uma entrevista especial, durante a campanha presidencial, no programa do Jô, na época “Jô Onze e Meia, no SBT. O apresentador lembrou que a velhice de Ulysses era usada por Collor, que fazia questão de mostrar-se um cadidato-atleta. O Dr. Ulysses não perdoou: “- eu sou candidato a presidente, não a modelo fotográfico”. O talento e o valor de Ulysses não sensibilizou o inepto eleitor brasileiro.
Pois é. Lembro que dias atrás perdemos Mercedes Sosa. Lembrei do velho Che aqui também, no dia 8, data de sua morte, em 67. São ídolos e heróis inesquecíveis.
Tá ficando bom lá em cima...
Fazer o que? Faz parte da vida, ainda que doloroso. Mas o mestre Niemeyer, que está vencendo mais uma no hospital, aos 101 anos, matou a charada do Planetinha: “levamos tudo muito a sério, brigamos muito, nada é tão importante, somos uma poeira, a vida é um sopro...”

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