terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Bita das nossas lembranças

Estava desligando o notebuque (me deu vontade de escrever assim – depois eu explico) e o querido Badu, comentarista da Guarujá, abriu a jornada esportiva fazendo uma homenagem ao Bita, que faleceu hoje. Ele foi um grande jogador de futebol do Avaí. O Badu conta que ele zombava em campo e adorava “meter no meio das canetas do pessoal.” Era funcionário da antiga Telesc, elegeu-se diretor do Sindicato dos Telefônicos, mas ultimamente andava um pouco incomodado com a vida. Pendurar as chuteiras, muitas vezes, é um castigo insuperável. O caso do Bita. Uma energia de menino, mas o velho coração, sempre maior do que ele, resolveu lhe “mandar para o chuveiro.”
Recebi há pouco os telefonemas do Sergio, presidente do Sinttel-SC, e do Aldomiro, diretor. Estamos todos muito consternados. O Bita nos cativou com a sua alegria de viver e estava sempre animando as conversas. Descansou. Tenho dito, de uns tempos pra cá, que “tá ficando bom lá em cima”. Nos resta o esforço por aqui pra merecer daqui há pouco o encontro com tantos bons que se foram, como o Bita.
De Turvo/SC, era um legítimo italianão. Barulhento, alegre, amigo, solidário e assim como brigava com a gente, no dia seguinte esquecia tudo e vinha cheio de carinho e com mais brincadeiras. - Aldomiro, seu cavalo! E dava uns tapões nas suas costas, quase derrubando-o e todos riam muito. Os carinhos do jeito dele.
A marca do Bita era a boa “molequice”. Não foi nem uma, nem duas vezes, que o mesmo Aldomiro chegou em casa com a pasta de trabalho pesada e quando abria, lá estavam grampeadores, furador, toalha, sabonete, garfo, faca, e todo tipo de quinquilharia, colocada pelo Bita durante o dia. Ele ligava depois, só pra ouvir a bronca, e todos riam de novo.
Era um apaixonado pela sua família. Falava muito deles e mostrava a sinceridade daqueles amores, sempre franco e ingênuo, quase menino. Quando saíamos pra tomar umas cervejas ou pra comer aquele pernil de ovelha na Riosulense, antes de muitos jogos no Scarpelli, ele lembrava com bom humor que iria levar uma bronca em casa. - Vamo logo com isso, pessoal, senão a Dona Celita briga comigo...
Com os dois filhos era pura emoção. Lembro de duas dele: o Bita chegou depois do almoço triste, abatido. – Bita, o que te aconteceu? O Bita contou. - Rapaz, tu não sabe o que eu ouvi agora da namorada do meu filho..., a guria me disse com a maior calma que não acredita em Deus! Eu disse pro meu filho, Guilherme, como é que vai ser isso, como é que vai ser a missa de domingo...! Esse era o Bita. Numa outra ocasião, ele falava das cenas de sexo nas novelas das oito e ficava apavorado com a filha vendo aquilo: - ô Celita, tu vai deixa a menina ver isso? Meus Deus..., essa coisarada toda na TV e a Marininha na sala, Celita...
Lembrei de outra. Eu terminava uma atualização no site do Sindicato e comunicava o Bita. Ele sempre reagia com entusiasmo, mostrando seu espanto com as modernidades da Internet: - Então essa notícia já tá lá no Turvo?! Dizia ele rindo.
Um momento de silêncio e de oração nesta noite, antes de deitar.
Seu corpo está sendo velado aqui perto de casa, no Jardim da Paz, e será sepultado amanhã, às 3 da tarde. Não vou. Prefiro ficar recolhido, pensando nessas histórias boas dele.
Diz Kardec que os espíritos gostam que lembremos dos momentos alegres que tivemos com eles. Assim ficam mais à vontade para seguirem suas escaladas de evoluções.
Minha singela homenagem, portanto, ao velho Bita e a solidariedade à dor de seus familiares.
A lembrança que fico do Bita foi a de uns 10 anos passados. Ruim de dinheiro, um pouco atormentado com isso, Bita me indagou: - Tás preocupado, Marcelão? Não precisei nem falar, ele sabia. Sem falar mais, puxou a carteira do bolso, tirou o dinheiro que tinha e me passou, com um sorriso largo. O Bita nunca aceitou que eu pagasse aqueles 300 reais. Um dia me acerto com ele.
Cuida da gente Bita.

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