sábado, 5 de dezembro de 2009

Os brontossauros do "chopim"

Acabo de chegar do "chopim". Não digo qual. Todos são iguais e as pessoas dentro de um shopping ficam todas iguais, ridiculamente iguais. Fim de festa para os ilustres clientes, consumidores. Fim de expediente pra quem se esfola como empregado, serviçal de um bando de mal educados, arrogantes - gente que deve até o pescoço em cartões de crédito, consórcios e financiamentos, e acha que são os donos do mundo.
Todos querendo sair do estacionamento ao mesmo tempo. Se não colaram nas provas de Física, no segundo grau, devem saber que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
A boa educação e o bom senso aconselham esperar, escutando um CD ou DVD que os seus carrões proporcionam ou, ainda, conversar pra passar o tempo, afinal é sábado e ninguém ali está trabalhando. Mas o som digital é mais um status e no máximo toca de vez em quando uma dessas músicas vulgares que rebolam por aí e, na melhor das hipóteses, botam um DVD importado deste hip hop desfigurado dos anos 2000, drogado de breguices, misturando o bestial com o erotismo patológico dos americanos do Norte.
No lugar de um comportamento minimamente civilizado, os bufões e suas partner's esquálidas se param a buzinar, todos ao mesmo tempo, como se aquilo fosse lhes abrir espaço pelas paredes. Não sabem esperar, são incapazes de aguardar a vez. São do tipo que já não abrem a porta do carro para uma mulher. Fumam dentro dele e jogam copos e sacos sujos do “mequidonaldis” pela janela.
Foram momentos de grande constrangimento. Me senti misturado a este mundo quase insano, culpado da grande maioria das coisas ruins que temos a nossa volta. Esse pessoal é aquele que se acha, e não acha nada sobre mais nada que não lhes diga respeito sobre o umbigo que tem. Me deu pânico imaginar que alguém passaria ali e me confundisse com brontossauros deste tempo moderno, platinado e descartável.
Basicamente não gosto de "chopins". Eles terminaram com os cinemas e os cafés elegantes nas calçadas. Eles são a releitura da Idade Média e deve ser por isso que eles se proliferam e atraem tanto a burguesia como aqueles ratos de Hamelin que seguiam o flautista.
Coisa boa ver pelas costas aquele enorme prédio e chegar em casa. Depois de escrever aqui, vou relaxar um pouco, tomar uma ou duas doses e ouvir um pouco de Chet Baker, talvez. Esse mundo não era mesmo para o Chet.
O Cazuza tinha razão: “a burguesia fede, a burguesia quer ficar rica; enquanto houver burguesia, não haverá poesia...”

3 comentários:

LesPaul disse...

Caro Marcelo, esse conceito de burguesia não cabe num envelope. Ali estão representantes de todos os extratos sociais (com 'x'). E a falta de educação é generalizada no país em que se bate no peito regozijando pela própria ignorância.

Marcelo Fernandes disse...

Grande Les,
Tens razão, é generalizada, a falta de educação e a ignorância. Mas não vamos esquecer que a obrigação de construir qualquer coisa melhor é dos formadores de opinião, de quem faz moda, de quem dá as fichas. Esse pessoal é a chamada burguesia, que tomou o poder lá na Idade Média e lá nunca saiu, pelo jeito. É esse pessoalzinho de classe média alta, remediado em tudo, que dá o tom pra maioria brutalizada e colonizada. E é claro que isso tem a ver com as atitudes, mais do que quanto o sujeito tem pra gastar. Conheço muita ente boa, pertencente a estes estratos granfinos que tem atitudes nobres, discurso de vanguarda, que se tornam, muitas vezes, idolos por isso mesmo. Um exemplo disso é o próprio Cazuza, entre outros tantos.
É verdade meu caro LesPaul, nesses "chopins" mistura-se todo mundo, mas só nos ambientes e o máximo que dividem é o mesmo ar. Os guetos se formam ali rapidamente, é só observar. As caras e bocas, a discriminação, o desprezo, são visíveis. Por fim, se bem me lembro, naquele estacionamento, dentro daqueles carros, estava só mesmo aquele pessoal de um extrato bem definido. O resto do pessoal aguardava no ponto de ônibus um horário de linha, talvez, retirado pelos donos do poder no município.
Grande LesPaul. Gostei de te rever. Estamos passando o som do "Papo com Jazz". Qualquer hora te chamo! Um abraço.

LesPaul disse...

À disposição mô bró. A pentelhação com teu post tem um único desiderato, a discussão sadia. Mas esconde tbém um fato: não consigo distinguir o que é hoje burguesia, há uma classe média inchada até o talo embaixo e no sótão.

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