sábado, 2 de janeiro de 2010

O filme, Vô Floriano e a ficha do Natal caiu

Só caiu agora a ficha do Espírito de Natal.
Trabalhei demais neste fim de ano e virei uma máquina de fazer coisas. Peço desculpas a mim mesmo. Perdão a todos. O Natal sempre foi algo precioso pra mim. Meus amores mais íntimos, pais, filhas e filhos, esposa, meus sobrinhos, minha unica irmã, devem ter estranhado meu ceticismo com o bom velhinho este ano.
Despertei agora pouco. Fui pego de surpresa por um desses canais. Uma faísca atrasada - como eu, exibia o filme "Aventura de Natal". Tomei café envolto daquele clima e foi me pegando. Me deu vontade de deitar no tapete e ali fiquei uns minutos e o menino me veio intenso, o neto do Vô Floriano. Um filme singelo, com cachorrinhos, cheio de delicadezas infantis, magias. O clima me tomou e 0 velho Floriano Fernandes aterrissou por inteiro. Vim correndo pra cá, dividir essa emoção com vocês, talvez pra minimizar essa minha grosseria natalina.
Meu avô era o próprio Natal. Era a data dele. Não havia momento mais importante para ele.
Sinto muito não ter podido estar junto de meus pais neste Natal. Só agora percebo o quanto sinto isso. Como disse, a ficha caiu. Meu Vô tem razão. Não há data mais importante que esta. A perdi. Agora só no ano que vem. Tomara que o bom velhinho me perdoe, digo, o Vô Floriano me perdoe.
Na tentativa de recuperar um pedacinho daquelas emoções, repassei a memória dos Natais lá de Ipanema, em Porto Alegre. Qualquer um seria bom. Todos foram fantásticos. Meu Vô era um profissional nisso.
Mas me lembrei nitidamente do Natal que ganhei a minha Caloi. Era uma bicicleta dos sonhos. Já falei dela aqui e até recuperei sua imagem no post de setembro/2009 ("Calói dobravel e as gurias fazendo baliza) Era azul piscina, tinha guidom alto e logo que a Ferragem Juca Batista abriu, corri lá e coloquei uma buzina nela. Era azul pra combinar e funcionava com uma pilhona Rayovac, azul e amarela. "Bi-bi-bi". Um espetáculo!
"Uma bicicleta para o *Capitão Rodrigo...!" Me lembro como se fosse hoje. Meu Vô, saindo do corredor íntimo da casa, entrando na sala ampla, com aquela Caloi empurrada por ele. Os presentes mais solenes e maiores, que exigiam maior mistério e surpresa, ele guardava na "Toca" - como chamávamos seu escritório, sempre cheio de segredos e atrações.
A ficha só caiu agora. Me perdoem a falha. Se isso for possível.

* Ganhei este apelido do meu Vô como uma homenagem de bravura, de coragem e heroísmo, coisas que todos trazemos no peito e nas fantasias de guri. O Capitão Rodrigo foi-me intitulado por conta de uma minissérie na TV, em 1971. Eu tinha dez anos. Anselmo Duarte dirigia "Um Certo Capitão Rodrigo", uma adaptação da história de Érico Veríssimo, a monumental "O Tempo e o Vento", que conta o romantismo e a bravura dos riograndenses e as fortes ligações com a formação daquela terra gaúcha. Na minissérie, o Capitão - , um cavaleiro boêmio que conspira contra o governo imperial, durante o Século 18, era vivido por Francisco Di Franco. Nesta época, cheguei a ganhar da Tia Odila - uma dessas tias velhas e bondosas que a gente sempre tem quando é criança, um lenço encarnado, crioulo, que eu, sem saber muito o seu significado, o usava como capa nas minhas lutas imaginárias de Capitão. Sabe lá se não vem daí muito de mim, desse intrépido, debochado e desaforado Capitão Rodrigo.

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