quinta-feira, 5 de maio de 2011

O DC,e os 25 anos que já passaram

Depois de ter lido tantas homenagens ao DC, que faz seus 25 anos de vida, me entusiasmei a escrever algo sobre esta história, da qual participei da sua arrancada.
Quando me perguntam a quanto tempo estou em SC, digo que o mesmo tempo de Diário Catarinense. Foi ele quem me trouxe para cá. Me lembro que falei com o poderoso Fernando Ernesto Corrêa, amigo de minha mãe, a Dona Leta, sobre um emprego salvador na RBS, já que havia dado com os burros n'água num projeto de rádio quase maluco em Porto Alegre. Quase sem saída, fui a Jesus, no terceiro andar da Avenida Ipiranga e busquei um "passaporte" para trabalhar no que viria a ser o DC.
Cheguei aqui numa manhã fria, seis da manhã, pela Santo Anjo, pela ponte, por Itaguaçu, um vento forte e um guarda-noturno-amanhecido que me disse: - o seu Armando Burd só chega lá pelas nove.
Fiquei bem ali por uns minutos, mas logo me acostumei com um cheiro de praia. Deixei a unica mala na portaria e fui caminhar em Coqueiros que, para mim, era uma coisa só, junto com Itaguaçu e Bom Abrigo.
Fui ser diagramador. Já havia passado por todas as sessões de uma redação. A gente que veio de partido clandestino, naquela época, sabia fazer quase tudo em comunicação. Diagramar foi barbada. Mas, não contava que em meses iria misturar minha régua de paicas, a lapiseira Caran d'Ache, borracha verde e espelhos de página, por computadores de telas verdes, textos e manchetes em centímetros e um past up quase pronto na montagem.
Tenho saudade de tudo que vi e tudo que fiz. Além disso, tive o privilégio de alinhar ombros com colegas poderosos na profissão, verdadeiros mestres. Lembro do Zini, do Rivaldo, Tarcísio, Emanuel Mattos, JB Telles, Prates, Mário Xavier, Acari Amorim, Clóvis, Cláudio Sá, Valdir Catarina, Afonso, Marta Bertelli, Garcia - o cubano, Tessália, Paulão, Acácio, Mirella, Breno Maestri, Chuchi, Rubens, Carioca, Debora Matte, Rosane Porto, Chavinho, Paulo Scarduelli, Cláudio Sarará, Mário Pereira, e tantos outros.
Claro que preciso lembrar da figura mais marcante para todos que o conheceram de perto. O Seu Maurício, Mauricio Sirotsky Sobrinho, o criador de quase tudo na época, na RBS. Vivi momentos mágicos com ele. Quase sempre nas madrugadas que a gente ensaiava os pilotos do DC. Trabalhávamos demais, tudo novo, tudo muito complicado para aqueles anos 80 e, muitas vezes, perdíamos o dia todo de trabalho, no meio da madrugada, tipo 3, 4 da manhã, por causa das quedas de tensão da Celesc, as quais os computadores IBM não estavam acostumados. Então vieram os nobreaks, trazidos por uns americanos malucos, que ficavam madrugadas com a gente, num CPD envidraçado, como uma central de uma espaçonave.
Pois numa dessas madrugadas aprendi a diagramar "de olho" com o Seu Maurício. Todo diagramador daqueles tempos cruzavam uma diagonal com um lápis dermatográfico nas costas da foto para calcular sua redução. Aquilo machucava e estragava, muitas vezes, a cópia da foto e roubava um bom tempo. Nesta madrugada, o Tarcísio trouxe uma foto de um jogo de futebol. Era uma cena de chute, bola no canto, perna esticada e precisava ser reduzida. Caprichei a diagonal pra não cortar nada, quando o Seu Maurício apareceu. - Guri, vou te ensinar a diagramar foto rapidinho, eu sei que tu tá certo, mas na correria, deixa eu te mostrar um jeitinho. Ele me tomou a foto, colocou sobre a mesa e passou a mira-la como fazem os diretores de cinema, focando com polegares e indicadores, formando um quadro perfeito. Aproximava o quanto queria e com um olho fechado apontava um risco com o dermatográfico, numa linha imaginária. Duvidei que aquilo desse certo. Ele riu e, então, foi comigo na fotomecânica fazer o MPT da redução. Deu na tampa. O corte tangenciou a bola com precisão. Piscou o olho pra mim e me deu de presente a frase: - acertaste em cheio, guri.
Mais tarde, de tanto incomodar o Burd, ganhei uma coluna dominical, para falar sobre as histórias do rádio. Ainda assinei umas matérias especiais e, em seguida, resolvi voar para o jornal O Estado, onde começou uma outra história de amor.
Pra não perder a oportunidade sobre estas aventuras maravilhosas e desafios por que passamos na profissão, lembro em tempo, que a CBN Diário - que faz 15 anos no ar, também me ofereceu a oportunidade rara de iniciar seu projeto, desde o primeiro minuto, precisamente às 6 da manhã, quando colocamos no ar o Jornal da CBN. No primeiro bloco, dividi a emoção com os colegas daqui com o Heródoto Barbeiro, que saudou nossa chegada na rede.
Depois, passei por quase tudo ali, incluindo o primeiro time do Debate Diário, com o Brito, o Roberto e o Telles. Chamávamos carinhosamente o projeto de "Salinha", porque era um "Sala de Redação" em SC. O Claiton Selistre me pediu uma lista de participantes e pensamos muito como seria o debate. Incomodei muito para colocarmos a idéia no ar. A estréia coincidiu com a contratação do Roberto Alves.
Foi tudo muito bom, há 15 anos. Faz parte de mim.
Parabéns a todos os colegas que fizeram e fazem o DC e a CBN Diário! De onde estiver, de alguma forma, me sinto um pouco aí.

Um comentário:

Deborah Matte disse...

Que gostoso lembrar disto tudo! Ser jornalista, na época, era realmente emocionante. Lembrei de todos os colegas citados por ti e pulularam lembranças carinhosas. Um abraço bem forte, meu amigo!
Deborah Matte

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