domingo, 8 de março de 2009

Quando a utopia não é utopia


A fila andou. Se o estado e a sociedade não se entendem para resolver seus conflitos e injustiças criadas pelas suas próprias ineficiências, as comunidades mais carentes – que são vítimas deste mal – acabam encontrando caminhos e soluções, criativas e revolucionárias.
É o caso de um edifício, localizado no centro de Porto Alegre, na Avenida Borges de Medeiros, nas escadarias do primeiro viaduto da cidade, um local nobre, portanto.
O prédio há muito anos estava abandonado e foi ocupado em 2005, atitude inspirada pelo Fórum Social Mundial, que se realizava na capital gaúcha naquele dia. De lá para cá uma entidade gestora foi criada, a Cooperativa Solidária Utopia e Luta, a Coopsul.
O prédio tem nove andares é está ocupado por pessoas entre 25 e 58 anos. Os chefes da família são 70% mulheres e a maioria estuda ou trabalha. Cada andar é temático. O primeiro, dos idosos, é chamado de 'Andar do Homem Novo'. Ele ganhou uma ilustração com a imagem de Che Guevara. A 'Consciência Negra', os 'Povos Indígenas', a 'Juventude', a 'Biodiversidade', a 'Mulher' e a 'Revolução' também estão nos painéis e dão nome aos outros andares. Os murais foram pintados por artistas com estilos diferentes.
No subsolo está sendo organizada uma lavandeira com máquinas industriais de lavar e secar roupas. No terraço, no espaço 'Chico Mendes', será feita uma cozinha industrial, uma horta comunitária e o trabalho de reciclagem do lixo. No térreo, haverá um teatro, salas de aulas de computação e uma creche. No hall de entrada, a frase dá o tom da utopia: "Está pisando no território da autodeterminação popular".
Os apartamentos do velho prédio abandonado na Borges – já em reformas internas e com outro visual externo - serão no formato JK - 14 deles, com 30 m², têm capacidade para dois adultos e duas crianças. Os outros 28 JKs, de 25 m², já servem para famílias que tenham dois adultos e uma criança.
Cada uma das 42 famílias pagará R$ 25 mil, em 20 anos - à Caixa Econômica Federal, um programa coordenado pelo Ministério das Cidades do Governo Lula. Se alguém tem alguma dúvida da legalidade do fato, pode conferir na Lei Federal 10.257/2001, do Estatuto das Cidades. "Os imóveis públicos devem cumprir, primeiramente, a sua função social. Ou seja, não podem permanecer fechados, pois acarretam custos para toda a sociedade", inclusive para a mais abastada.
Mas o que mais me chama a atenção é o projeto futuro da Coopsul, que é dirigida pelo músico e compositor Eduardo Solari. Para quem imagina que os “ocupadores” pretendem se eternizar naquele espaço central - que remonta boa parte da história de Porto Alegre – a utopia daquela comunidade é clara. Em menos de 10 anos, eles pretendem se transferir para outro prédio e transformar o local em um espaço cidadão. Vão remanejar as famílias e transformar o prédio em um Centro de Formação Cidadã. Mas isso, hoje, ainda não é permitido, porque a lei não permite, mas eles querem “transgredir” de novo, buscando este sonho em outras lutas.
Muita gente torce o nariz para soluções como esta e se insurge com posturas e velhos conceitos debaixo do braço. Pois é. Quando se fala muito, sem soluções concretas, a fila anda. Nem sempre na toada dos poderosos.
A fila está andando pessoal.
Para quem quiser ler a matéria integral, da Fabiana Leal, do Portal Terra.

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