domingo, 30 de agosto de 2009

Gripe A invadirá o verão

Acabei de ler só agora (a edição é de 17 de agosto) uma entrevista da revista Época, com Marie-Paule Kieny, da OMS, sobre a Gripe A. A gente fala, fala, mas passa batido por informações que nos dariam outro olhar ao ler, ver e ouvir os noticiários e as nossas autoridades de saúde.

Na dúvida se apenas eu cheguei atrasado nesta importante matéria de Época, transcrevo aqui a íntegra da entrevista que está disponível na Web. Vale conferir.


A pandemia invadirá o verão

A diretora de vacinas da OMS diz que a gripe não acabará após o inverno. Seguirá ininterrupta até 2010

Por Peter Moon

Ao contrário da gripe comum, a gripe suína não deu trégua no verão do Hemisfério Norte. “Esperava-se que a pandemia prosseguisse no verão. Esse padrão deve-se reproduzir no Hemisfério Sul”, diz Marie-Paule Kieny, de 54 anos, diretora de vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pandemia é causada por um vírus novo, contra o qual ninguém possui defesa. A única solução é a vacina. Enquanto ela não vem, diz Kieny, os brasileiros terão de conviver com a pandemia no verão de 2010.

QUEM É

A infectologista francesa Marie-Paule Kieny dirige o Centro de Pesquisa de Vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra

O QUE FAZ

Coordena a corrida mundial para produzir a vacina da gripe suína

O QUE FEZ

Criou a vacina antirrábica para animais selvagens que erradicou a raiva nos Estados Unidos e na Europa

ÉPOCA – Quando haverá vacina?

Marie-Paule Kieny – Já existe um número limitado de vacinas que estão sendo usadas em testes clínicos na Europa, nos Estados Unidos e na China para aferir sua eficácia. A expectativa é que licenciemos a nova vacina até o fim de setembro. Tão logo ela seja licenciada, as fábricas poderão iniciar a produção.

ÉPOCA – Uma dose será suficiente?

Kieny – Ainda não sabemos. A resposta depende do resultado dos testes clínicos. Talvez baste uma dose, talvez seja preciso duas. Nesse caso, também ainda não sabemos qual será o intervalo entre cada aplicação para atingir a imunização total.

ÉPOCA – Os Estados Unidos vacinarão metade da população. O Brasil deverá vacinar 100 milhões?

Kieny – Essa é uma decisão de cada governo, baseada em sua estimativa de pessoas que fazem parte dos grupos de risco, cuja vacinação é prioritária. A única diretiva da OMS é dar prioridade ao pessoal médico que atende os doentes.

ÉPOCA – Serão vacinados todos os americanos com menos de 24 anos e mais de 65 anos. Mas, no Brasil, 65% dos mortos por gripe suína tinham entre 20 e 45 anos.

Kieny – Esse é um vírus novo. Seu comportamento é imprevisível. No México, houve um grande número de mortes entre adultos jovens. Até o momento, os maiores grupos de risco continuam sendo as gestantes e os portadores de doenças crônicas. Ampliar ou não o público-alvo da vacina é uma decisão de cada governo.

ÉPOCA – O Brasil tem a única fábrica de vacina de gripe da América Latina, capaz de fazer até 30 milhões de doses ao ano. Chile e Argentina querem a vacina. Devemos fornecer antes de vacinar os brasileiros?

Kieny – É uma decisão muito difícil. Os governos dos países com fábricas terão de avaliar a decisão a tomar. Será uma decisão política. Não haverá vacina para todos. Se for necessário duas doses, a capacidade mundial de produção só atende 1 bilhão de pessoas. Somos 6,8 bilhões.

ÉPOCA – Na semana passada, o governo brasileiro anunciou que a prioridade é a vacina pandêmica. Ela começará a ser feita em outubro. Ainda faz sentido produzir vacina comum?

Kieny – Eu me pergunto isso diariamente. O novo vírus A(H1N1) está canibalizando o vírus da gripe comum – mas esse ainda existe. A orientação da OMS em fazer ou não vacina comum para o inverno de 2010 no Hemisfério Sul sairá em setembro. Dependendo dos dados epidemiológicos, talvez se conclua não haver necessidade da vacina comum – só da pandêmica.

ÉPOCA – A gripe suína não deu trégua no verão do Hemisfério Norte. Aqui será igual?

Kieny – O A(H1N1) é um vírus novo. Ninguém tem imunidade. Já se esperava que a pandemia prosseguisse no Hemisfério Norte no verão. Esse padrão deverá se reproduzir no Hemisfério Sul. Na primavera, o número de casos deverá cair, mas a gripe não vai desaparecer. A pandemia invadirá o verão. Vamos ter de conviver com o vírus até a chegada da vacina.

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