segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Calói dobrável e as gurias fazendo baliza

O 7 de Setembro sempre traz uma saudade da minha primeira bicicleta, uma "Berlineta" Calói dobrável azul, guidon do tipo chopper, uma novidade naqueles anos 70. No feriado de hoje a gente ia no armazém do bairro e tomava um sorvete de copinho pra depois usar a tampinha de plástico. Ela era presa com um prendedor de roupa no quadro da bicicleta, na roda traseira, de forma que encostasse nos raios fazendo aquela barulheira. A gente achava que aquilo imitava o som de uma moto de verdade. Umas fitas verde-amarelas ajudavam a enfeitar a “bici”. Não faltavam as bandeirinhas do Brasil distribuídas pela Ditadura Militar e o catavento. Os guris mais abonados tinham, ainda, uma buzina estridente, que funcionava com uma pilha grande Rayovac. Assim, íamos para a avenida principal dos bairros, desfilar entre as gurias, que faziam baliza. Vestiam malhas brancas e meias de nylon colantes. Quase batíamos no meio-fio da calçada olhando a evolução daquelas pernas de hormônios efervescentes. Dividíamos a emoção de perfilar pela Pátria e ficar tão perto daquelas bailarinas no asfalto. Éramos felizes e sabíamos. Era lúdico, ingênuo e delicado.

No resto dos dias daqueles anos, longe dos desfiles cívicos de setembro, o governo perseguia e matava seus inimigos e nossos pais fingiam não saber de nada. Crescemos assim, fingindo muitas outras coisas. Ficou, entre tantas lembranças, aquela intrépida Calói inesquecível.

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