sábado, 29 de janeiro de 2011

O Barão e eu no Sava

Já faz quase um mês, talvez, uma colega me informou que o velho mago dos bolachões da discotecagem dos anos 70, Ricardo Barão, faleceu, vítima de um infarto fulminante.
Fiquei muito abalado. Devia um registro aqui.
O Barão faz parte do meu passado lá de Porto Alegre, dos meus 17, 18 anos de idade, quando tinha a paixão de botar som em festas (era assim que dizíamos...).
O Barão era o discotecário da Rádio Continental - que hoje chamam de DJ, uma simplificação do "Disc Jockey". Ele era o "Mestre Barão" na apresentação que o Cascalho fazia, de segunda à sexta, no "Cascalho Time", na Rádio Continental, no "Portinho". Pra quem não sabe, o Cascalho foi um tremendo comunicador daqueles anos, uma espécie de versão gaúcha do Big Boy. Digo que o Cascalho tinha um estilo próprio. Grosseiramente, diziam que ele imitava o Big Boy da inesquecível Rádio Mundial do Rio de Janeiro, a precursora do que tentam ser hoje as FM's.
Bem, mas eu falava do Barão. Ela era uma lenda pra mim e acho que pra muitos. Além da Continental, o "Mestre das bolachas incrementadas..." (mais uma dos Cascalho - bolacha era o apelido dos LP's), também botava som no "Baile dos Magrinhos", que eram uns bailes/shows que o Cascalho promovia com grande sucessso em toda década de 70.
O Barão era o discotecário da boate do Sava (Sociedade dos Amigos da Vila Assunção). Nos anos de 1975 à 1979, a Boate do Sava era soberana: o local que todos iam. Era o ponto da "magrinhagem" e da "cocotagem" (depois conto sobre estas gírias).
Não tinha a menor vergonha de ficar "babando" o Barão naquela cabinezinha da Boate, em frente aos "pratos" Garrard e de um mixer feito em casa. Mas abaixo tinha uma potência e um pré-amplificador Gradiente que garantiam a noite toda. Do lado dois engradados cheios de "bolachas", que vinham lá da Continental. Acima da aparelhagem ficavam os comandos de luz. Tudo feito em casa e improvisado. O piscar era manual, manipulados com chaves-facas. Tinha um circuitinho automático, montado dessas revistas de eletrônica. Os faróis coloridos eram de fusca, 12 volts, com papel laminado colorido na frente. A "strobo" era feita de um ventiladorzinho Arno. Tirava-se as pás, deixando uma apenas. Ela passava em velocidade na frente de uma lâmpada branca. Era incrível, mas dava o efeito certo das "strobos" profissionais, que só o Ricardo Amaral tinha na sua platinada "New York City", no Rio.
Eu ficava vendo o Barão pilotar tudo aquilo. Ficava fascinado. Quase nem dançava, nem "pegava" ninguém.
Anos a fio, vendo tudo aquilo, fui aprendendo a fazer cada movimento. Sabia tudo.
Uma noite o Barão bebeu um pouco e me ofereceu os comandos. Fui como um menino pra andar de carrinho de lomba novo.
Meses mais tarde, eu já dividia a cena com o Barão. Ele me confiava a madrugada de som, enquanto saia com as "cocotas" mais descoladas do Sava. Eu ficava ali, como um astronauta, mandando na pista, lá da minha cabine. Aquilo era mágico, um sonho.
O Barão se foi. Com ele vai um pouco desta minha memória.
Depois falo mais disso tudo.

Um comentário:

fernando machado disse...

baita matéria!
grande lembrança do Ricardo
valeu

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