segunda-feira, 12 de outubro de 2009

La Negra Tucumána cantará para sempre

Eu preciso pedir mil perdões neste instante. Como jornalista, me sinto triste e envergonhado e não vou esquecer que esqueci, que fui pouco cuidadoso no acompanhamento das notícias de “La Negra”, que andava doente, eu sabia.
Devo a ela muito de minhas alegrias juvenis. Devo a ela muito das minhas dores tão adolescentes então, que se transformaram em força, garra e mais vontade de vencer, embalado pelos seus cantos libertários, cheios de amor e delicadeza.
Mil perdões pela falta, mil perdões por este imperdoável desleixo, eu que te devo tanto e que ainda pego emprestados teus versos e me pego cantando tantas vezes por ai, em busca do que deixei de tão bom, de tão verdadeiro e sempre que me lembro de tudo que já disse e lutei, com tanta mais entrega e idealismo, é porque te ouvia mais e tua voz me era uma bandeira, sempre altiva, a tremular em ventos deste Sul.
Só agora, cantarolando feito um ancião, “Volver a los 17, me lembrei de ti, de tua saúde e me deu uma dor profunda, dor de arrependimento, já de saudade. Antes mesmo de conferir nos sites já sentia que tinhas partido, velha tucumána, que sacudiu com seu canto tantas vezes esta nossa América sofrida.
Leio que nos deixaste o corpo cansado no domingo, dia 4. Me explico um pouco, envergonhado ainda, mas é que na sexta – dois adias antes – era chamado a velar um velho e querido amigo, um xirú também exausto daqui, um índio bravo como tu, desses que vieram ao mundo só para fazer o bem e cuidar da gente, um macanudo dos raros e que só depois que partem é que se sente o quanto já fazem falta.
Pois quis o sábado, um dia antes da tua partida, querida hermana, que fosse este o dia para a despedida do velho amigo Dedier. O domingo, então, foi de lágrimas, de silêncio, de viagens, partidas, despedidas, mais do que eu imaginava.
Foi por certo assim, grande cantadora de sonhos, que me perdi de ti, que nada ouvi ou li, lá do fundo daquele poço, onde todo índio triste e magoado chora feito um guri.
Sosa, guerreira, rebelde aprendi ser te ouvindo, com Milton, com Pablo, recitando Violeta, Brecht e Neruda, Mecedes, inesquecível sempre, Sosa.
Me passa como trailler’s cenas de 70’, Gigantinho, Porto Alegre, palco e arquibancadas e tudo esfumaçado de bombas de gás, espocar de tiros, gritos firmes, palavras de ordem em dois idiomas, jovens prontos para “guerra”, no palco “La Negra” Mercedes, “...yo tengo tantos hermanos; que no los puedo contar; en el valle en la montaña; en la pampa y en el mar; cada cual con sus trabajos; con sus sueños cada cual ...”
Me perdoe, somente agora...
Nem "todo cambia", hermana. Nossa gratidão jamás irá quedarse!

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