
Estes dias que passam nos dão uma impressão de que estamos cada vez mais órfãos dos nossos ilustres, das nossas reservas morais. Gente que nos guiou os passos e as idéias por décadas vão passando, deixando um grande vazio.
É o caso do Dr. Ulysses Guimarães. Líder brilhante e raro, fundamental nos embates contra a ditadura militar e depois na chamada transição democrática. Ontem, feriado de Nossa Senhora Aparecida, fez 17 anos que o “Senhor Diretas” desapareceu. Um fato estranho, pouco explicado até hoje, mas muito próprio do Brasil, estranho e pouco explicado também.
Tive o privilégio de conviver com ele durante meses, trabalhando em São Paulo, na sua campanha presidencial de 1989. Era um forte e transitava em qualquer ambiente, sem perder princípios, transigindo apenas no que a boa política permite, sem nunca esquecer da ética.
Durante sua campanha dava um banho em todos nós, de 30, 40 anos, e ele já com seus 70 bem cruzados. As articulações mais complicadas, com as quais tinha uma habilidade admirada até pelos adversários políticos, o Dr. Ulysses preferia fazer à noite, no Restaurante Piantella, na Capital Federal, em conversas que duravam horas, sempre regadas a doses de "poire", um licor de pêra, bebida preferida dele.
Somos um país estranho mesmo. Naquela eleição de 89 elegemos Collor, deixando aquele que mais precisávamos e que mais merecia ocupar o Planalto em 7º lugar. Tiveram mais votos que Ulysses, além de Collor, Lula, Brizola, Covas, Maluf, e Afif.
Lembro que os jornalistas que cobriam o Congresso se regozijavam com as tiradas do Dr. Ulysses. Sabia que suas declarações renderiam nas matérias e isso fazia dele o centro das atenções em Brasília. Me lembro de uma entrevista especial, durante a campanha presidencial, no programa do Jô, na época “Jô Onze e Meia, no SBT. O apresentador lembrou que a velhice de Ulysses era usada por Collor, que fazia questão de mostrar-se um cadidato-atleta. O Dr. Ulysses não perdoou: “- eu sou candidato a presidente, não a modelo fotográfico”. O talento e o valor de Ulysses não sensibilizou o inepto eleitor brasileiro.
Pois é. Lembro que dias atrás perdemos Mercedes Sosa. Lembrei do velho Che aqui também, no dia 8, data de sua morte, em 67. São ídolos e heróis inesquecíveis.
Tá ficando bom lá em cima...
Fazer o que? Faz parte da vida, ainda que doloroso. Mas o mestre Niemeyer, que está vencendo mais uma no hospital, aos 101 anos, matou a charada do Planetinha: “levamos tudo muito a sério, brigamos muito, nada é tão importante, somos uma poeira, a vida é um sopro...”
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