domingo, 24 de janeiro de 2010

Quem já não foi baiano?

Ia em direção à Ponte Pedro Ivo Campos. Vinha do Estreito. Quando faço o trevo e converto à Via Expressa, passa por mim um flamejante Toyota preto tipo sedan, de vidros quase negros, através dos quais quase não dava para ver um homem dos seus 40 anos acompanhado de sua esposa, muito provavelmente.
Passava das duas da tarde e os dois mostravam uma alegria incontida. Eram turistas. A certeza estava na placa: BA – BOM JESUS DA LAPA.
Ela portava uma não menos flamejante filmadora, dessas digitais, moderníssimas. Parecia uma cinegrafista policial, tamanha era sua habilidade e concentração no registro da entrada da Ponte.
Na verdade, o que me chamou a atenção daquele casal baiano foi a performance do motorista. Ele parecia mirar o logo da Toyota no meio do capô na linha pontilhada que dividia a primeira e a segunda pista da Ponte, como se fosse um desses motoqueiros truculentos e suicidas. Foi assim, até o final da Pedro Ivo.
O critiquei com os meus botões, mas imediatamente lembrei que todo turista é assim. Todos, cada um de nós que está de férias e em visita numa outra cidade. Ou será que o leitor nunca fez aquele retorninho providencial não permitido? De bermuda e sandália, CD do Bob Marley bombando, e o seguinte raciocínio pra boi dormir: - ah, mas eu não sou daqui..., como se o Código de Trânsito da sua cidade fosse diferente de todo o País. É assim que somos todos, turistas, em qualquer lugar do mundo, pelo menos deste mundo aqui.
Turista com pedigree fala alto, ri de quase tudo, dá gorjeta pro malabarista argentino, compra no sinal água gelada e aquela raquete pra matar insetos e na praia a maioria é fácil identificar: guarda-sol colorido das Americanas ou da Havan, cooler Boêmia ou Skol da promoção do Big, livros de auto-ajuda que ganharam de alguma tia no Natal e o celular pra ligar de meia em meia hora pros parentes e amigos pra tirar uma onda. Se tiver criança, tem ainda uma gritaria danada, hora dos baixinhos, hora dos altinhos.
Não se encaixou em nenhum desses pitorescos detalhes? Não? Você nunca foi turista.
Por tudo isso, nem esquentei com aquele baiano do Toyota, entre uma pista e outra na Pedro Ivo, deslumbrado, ele e a esposa.
Fiquei só pensando num diálogo arrogante com eles:
- Estão chegando à Floripa, de férias?
- Sim.
- Viajaram bastante, a placa é da Bahia...?
- É, estrada de um dia inteiro, mais de mil quilômetros...
- Mas vai valer a pena, vão passar uns dias num belo hotel, curtindo boas praias, camarão, cervejinha, natureza por todos os lados, legal, hein?
- É.., legal. E você também está de férias aqui como a gente?
- É, quase isso. Eu moro aqui.

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