sábado, 22 de maio de 2010

A noite doida de terça

Demorei um pouco para postar aqui a emoção que vivi na noite de terça (18) no Jornal da Noite, pela Guarujá. Não quis parecer bufão, tenho horror disso. A vaidade é um problema. Ela faz coisas muito ruins. Não gosto dela, na maioria das vezes e brigo contra este sentimento.
Passados uns dias, recebendo informações e observando a reação das pessoas, resolvi postar aqui um registro do que aconteceu. Não chegou a ser histórico, no sentido do sensacional que a coisa tenha sido, mas um momento de emoção para todos que participaram de toda aquela noite/madrugada assombrada por uma chuva e um vento loucos.
Quando eram 20 horas, ainda produzia o JN na redação, o Show de Bola já rolava com um ar estranho. Falava-se mais de chuva e ventania do que de futebol. Na sala de bate-papo da da emissora, pela Web, os ouvintes davam o tom do que era importante. Escreviam e contavam que a chuva e o vento eram doidos, dava medo.
Meus colegas, Edson Cúrsio e Janitter De Cordes começavam a entender isso e mudavam o rumo da prosa. A chuva e o vento tomavam conta do chat e do programa.
Ouvindo essa dinâmica na redação, comecei a derrubar entrevistas e matérias. Em poucos mais de meia hora já tinham derrubado todas as entrevistas marcadas e sabia que seria um Jornal diferente, feito todo na balada do aguaceiro violento na região.
Passei a ligar para os coordenadores das Defesas Civis de todos os municípios da Grande Florianópolis, Polícias Rodoviárias, Defesa Estadual, entre outros.
Lá pelas tantas, o Janitter impressionado veio à redação e me fez um relato sobre o chat. Sugeriu que eu continuasse o JN com o chat linkado. Topei na hora. O Janitter começava a mostrar do que ele seria capaz o resto da noite.
Fui pro ar com o JN todo modificado. De roteiro mesmo, tinha só a abertura. O resto eu já sabia que faríamos um grande improviso, uma cobertura daquelas, meio malucas. Entre nós: a gente adora isso! Não a catástrofe, que faz pessoas sofrerem, mas o desafio, a necessidade de superação, o envolvimento com o ouvinte, o exercício pleno das funções do rádio e das suas peculiaríssimas qualidades e potencialidades nestes momentos.
O chat me assustou positivamente, de cara. Momento seguinte, me emocionou. Eram dezenas de pessoas, ouvintes, participando feito repórteres. Eles relatavam com precisão o que acontecia em suas casas, ruas, bairros e cidades da região. Alguns deles saiam na calçada, na janela, no quarteirão, para observar, voltar e continuar contando o que viam, através do chat. Eu, que não tenho repórteres ao vivo no JN, naquela noite tive mais de 40, e todos bons demais.
Houve momento em que fiquei 10, 15, 20 minutos apenas lendo o que estava na tela do chat. Aquilo era informação rica, precisa, objetiva, jornalismo puro. Eu só lia os relatos e aquilo era um roteiro ao vivo do que estava acontecendo.
Entrecortei estas leituras várias vezes com a participação do Janitter. Baixou no Janitter o espírito do "Amaral Neto, o repórter" (os mais antigos vão lembrar...). Ele resolveu sair em direção oposta de casa, depois do seu horário cumprido, sem que ninguém pedisse. Não sei quantas vezes o Janitter entrou no ar. Talvez mais de dez intervenções. Do centro, da Via Expressa, da 101, de Campinas, de Palhoça... Entrevistou pessoas, contou o que viu, com rigor, com expressividade, com a emoção do narrador que é, mas com a precisão do repórter e a dignidade do bom jornalismo.
Sem titubear, pediram passagem para entrar no ar e passar informações os colegas Carlos Damião, Fábio Nocetti e o caçula da Guarujá, Emanuel Soares, que estava na Estácio, em Barreiros, e registrou por várias vezes, o seu trajeto para casa, lá nos Ingleses. O repórter Fabrício Corrêa, que estava jantando na Beira Mar com a familia e a noiva de aniversário, resolveu ir para o estúdio com o pai à tiracolo. Contou o que viu na cidade, como fez também o Polidoro Junior, de casa, em frente à Praça Celso Ramos, uma cachoeira descendo do Morro do 25 e carros boiando na Bocaiúva.
No único intervalo que fiz em uma hora no ar, fui à janela do estúdio. Abri a basculante devagar, menos de dez centímetros. Fiquei com a cara ensopada e vi uns carros passando pela Hercílio Luz como barcos. Na Nunes Machado havia uma corredeira d'água, digna de rafting. Voltei ao microfone, já passava da meia noite, longe da hora normal do JN terminar. Fomos até a uma e quinze, aproximadamente.
Vale registrar a mobilização e o trabalho do Pierre Buckmam, operador de áudio. Intrépido, ágil, emocionado com o que fazia, pilotando com maestria, linhas, trilhas, bilhetes que chegavam pelo telefone, recados, informações que pipocavam de todos os lados. Bonito de ver. Lá pelas tantas, como um vento a mais, apareceu o Edison Garcia, o responsável técnico da Guarujá. Ficou ali de plantão, pra lá e prá cá, disposto a qualquer coisa, ajudando a manter aquela loucura toda no ar e ainda cuidando de uma goteiras que já começavam a invadir a redação e a ante-sala do estúdio. De pés descalços o Garcia, de olho na banda larga e no sinal da emissora de pé, e mãos no rodo, baldes e panos, como um super-herói.
Poderia contar centenas de detalhes maravilhosos desta noite, como o ouvinte da Irlanda, que nos acompanhava pela Internet e entrou no chat para pedir informações de parentes aqui na região. Teve até espaço para o bom humor. Alguém no chat lembrou das tainhas que, apesar de tudo, estavam anunciando a chegada.
O relato longo que faço aqui, não é algo inusitado, extraordinário, invulgar. A quem possa pensar que estou sobrevalorizando nosso trabalho, se engana. Não fizemos nada anormal, nada impressionante. Não. Mas vivemos, mais uma vez, a alma do rádio.
Este ano faço 31 anos de jornalismo. Vivi a noite de terça como um menino, talvez com a mesma vontade e emoção do Emanuel, que tem 19 anos, de vida. Por isso é que conto isso aqui, como um relato de fé, de paixão, em homenagem aos que nos ensinaram a fazer este rádio, que vibraram tantas vezes assim e nos mostraram o caminho. Finalmente, uma permanente homenagem ao ouvinte, esse intrépido e fiel assistente e coadjuvante desta nossa emoção. Ele - do outro lado do radinho, completa e é a razão de ser de todos nós do lado de cá.
Acho que já falei demais. Me desculpem. Esse assunto me emociona. Muito obrigado a todos que me permitem viver esta grande emoção.
Estou finalizando um filmezinho dos diálogos do chat. Eles me foram enviados pelo Marcelo Gonçalves, o "Moleza", que me fez o carinho de salvar aqueles diálogos e me mandar por e-mail. As imagens dos diálogos com trechos dos áudios daquela noite estarão aqui na segunda, espero.

2 comentários:

LesPaul disse...

Caro Marcelo, caso possa ousar cvom pitacos, sugiro CAPAR do texto todas as `mesuras` quanto à vaidade de relatar o trabalho da equipe e suas desculpas. Você, equipe, amigos e abnegados foram (são) personagens que protagonizaram do olho da azáfama parte da bela produção da rádio, veículo que nas periclitantes horas de tranqueira mostra que sobrevive com merecidas lôas. CONGRATULAÇÕES JORNALÍSTICAS.

LesPaul disse...

Faltou dizer: BOM PRA CARAGLIO GIRAR O DIAL E ENCONTRAR A `CACALHADA`DANDO CONTA DO RECADO. Parabéns com escusa pela caixa alta.

CONTATO COM O BLOGUEIRO